Postado Por : DarkinhoOo sexta-feira, 13 de abril de 2012





Os discos flexíveis - mais popularmente, disquetes - um dia já representaram um tecnologia de ponta, a possibilidade de expandir a memória, transferir arquivos, fazer backups. "Eu cresci jogando jogos que eram salvos em uma pilha de disquetes", relembra Nick Gentry, artista britânico que hoje usa as "relíquias" tecnológicas como tela para suas pinturas.

"Para mim, os disquetes marcam a guinada do mundo digital", conta, em entrevista ao Terra, por e-mail. Hoje, a maioria dos computadores sequer tem o leitor necessário para inserir os discos "três e meio", como eram chamados por causa da dimensão radial. "De alguma forma eu sempre estive às voltas com eles, e agora que os formatos de mídia física estão desaparecendo, imagino que é natural que eu considere fazer arte com disquetes", diz.

O londrino, que também já experimentou trabalhar com fitas VHS, cassetes e negativos fotográficos, conta que o artista brasileiro Vik Muniz é uma de suas inspirações para o trabalho. "Estive no Brasil há alguns anos e vi as obras dele pela primeira vez. Ele considera a escolha do suporte como (um ponto) central na criação da arte. Isso me fez perceber que a arte pode escapar o confinamento da tela branca", afirma.

Gentry coloca os disquetes uns ao lado dos outros, às vezes com etiqueta, às vezes sem, em outros casos com o que restou quando alguém tentou arrancá-las. Para formar a pupila dos retratos, algumas "peças" são viradas de trás para frente. A pintura, sobre a "tela tecnológica" construída com base de madeira, também não segue um critério fixo quanto a cobrir ou não os resquícios do que vai sob a tinta.

"Estou interessado na ideia de as coisas se tornarem obsoletas. Todos parecemos concordar que quando a tecnologia produz algo mais eficiente, os precursores que antes usávamos são rapidamente considerados inúteis. Ao criar o tecido para as pinturas com essas evidências do que passou, a arte se apropria da história consolidada", explica.

Além de versarem sobre o consumismo do mundo atual com o avanço tecnológico, as obras do inglês trazem também outro diferencial: o da arte construída socialmente. No início, os disquetes que usava eram seus, mas quando seu trabalho ficou conhecido, pessoas de todo o mundo agora enviam "pedaços de tela" - disquetes. "As pessoas querem se envolver em algo artístico e criativo, e gosto da ideia de que as pinturas podem ser, de algum modo, uma experiência compartilhada", opina. Questionado sobre como resumiria seu trabalho em uma frase, ele responde: "arte social feita a partir do obsoleto".

As obras do londrino já figuraram em exposições no Reino Unido e nos Estados Unidos, além de em cidades de outros países ao redor do mundo. E quando elas serão vistas no Brasil? "Isso vai acontecer, espero, em breve. Tenho boas memórias das pessoas e cultura muito criativa das ruas (do País)", adianta.

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